quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Dia das Bruxas - Quem realmente eram as "Bruxas"

Eram pessoas acusadas de fazer feitiços e usar poderes sobrenaturais, supostamente obtidos em rituais satânicos e pactos com demônios. Ao contrário do que muita gente imagina, a maior parte dos casos de perseguições contra bruxas, queimadas em fogueiras coletivas, não aconteceu na Idade Média, mas no início do período moderno, do final do século 14 ao começo do século 18. Existe muito exagero sobre o assunto, que só começou a ser pesquisado na década de 1970. "Idéias falsas sobre as bruxas persistem até hoje. Jamais existiu qualquer culto de bruxas, envolvendo deusas, demônios ou deuses ancestrais, e as pessoas suspeitas de serem bruxas nunca tiveram conexão com religiões pagãs antigas", afirma o historiador Jeffrey Burton Russell, da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos. Muitas dessas histórias foram
alimentadas por escritores românticos do século 19, que criaram mitologias sobre essas figuras - a mulher que entra pelo telhado para chupar o sangue de crianças, bebe e gargalha voando de vassoura... Mas, então, quem eram as pessoas que iam parar na fogueira? Geralmente, eram os chamados hereges, gente que não seguia o catolicismo pregado pela Igreja. Em povoados mais supersticiosos, a coisa era mais complicada: na França do século 15, há registros de epidemias que geraram uma espécie de histeria coletiva - o povo culpava as bruxas pelas doenças. Aí, bastava a mulher ser esquisitona para ser considerada bruxa, perseguida e levada à fogueira. Um caso de preconceito explícito - e numeroso.

Calcula-se que entre 40 mil e 50 mil pessoas foram executadas acusadas de bruxaria.


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Berenice - Edgar Allan Poe

Mais um conto do Edgar Allan Poe, quem nunca leu Berenice vai ter essa oportunidade agora!

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Berenice


A DESGRAÇA É VARIADA. 

O infortúnio da terra é multiforme. Arqueando-se sobre o 
vasto horizonte como o arco-íris, suas cores são como as deste, variadas, distintas e, 
contudo, nitidamente misturadas . Arqueando-se sobre o vasto horizonte como o arco-íris! 
Como de um exemplo de beleza, derivei eu uma imagem de desencanto? Da aliança de 
paz, uma semelhança de tristeza? E que, assim como na ética o mal é uma conseqüência 
do bem, da mesma realidade, da alegria nasce a tristeza. Ou a lembrança da felicidade 
passada é a angústia de hoje, ou as amarguras que existem agora têm sua origem nas 
alegrias que podiam ter existido. 
Meu nome de batismo é Egeu. O de minha família não revelarei. Contudo não há torres 
no país mais vetustas do que as salas cinzentas e melancólicas do solar de meus avós. 
Nossa estirpe tem sido chamada de uma raça de visionários. Em muitos pormenores 
notáveis, do caráter da mansão familiar, nas pinturas do salão principal, nas tapeçarias 
dos dormitórios, nas cinzeladuras de algumas colunas de armas, porém, mais 
especialmente, na galeria de quadros no estilo da biblioteca e, por fim, na natureza muito 
peculiar dos livros que ela continha, há mais que suficiente prova a justificar aquela 
denominação. 
Recordações de meus primeiros anos estão intimamente ligados àquela sala e aos seus 
volumes, dos quais nada mais direi. Ali morreu minha mãe. Ali nasci. Mas é ocioso dizer 
que não havia vivido antes, que a alma não tem existência prévia. Vós negais isto. Não 
discutamos o assunto. Convencido eu mesmo, não procuro convencer os demais. Sinto, 
porém, uma lembrança de formas aéreas, de olhos espirituais e expressivos, de sons 
musicais, embora tristes; uma lembrança que não consigo anular; uma reminiscência 
semelhante a uma sombra, vaga, variável, indefinida, inconstante; e como uma sombra, 
também, na impossibilidade de livrar-me dela, enquanto a luz de minha razão existir. 
Foi naquele quarto que nasci. Emergindo assim da longa noite daquilo que parecia, mas 
não era, o nada, para logo cair nas verdadeiras regiões da terra das fadas, num palácio 
fantástico, nos estranhos domínios do pensamento monástico e da erudição. Não é de 
admirar que tenha lançado em torno de mim um olhar ardente e espantado, que tenha 
consumido minha infância nos livros e dissipado minha juventude em devaneios; mas é 
estranho que ao perpassar dos anos e quando o apogeu da maturidade me encontrou 
ainda na mansão de meus pais, uma maravilhosa inércia tombado sobre as fontes da 
minha vida maravilhosa, a total inversão que se operou na natureza de meus 
pensamentos mais comuns. As realidades do mundo me afetavam como visões, e somente 
como visões, enquanto que as loucas idéias da terra dos sonhos tornavam-se, por sua 
vez, não o estofo de minha existência cotidiana, na realidade, a minha absoluta e única 
existência. 
Berenice e eu éramos primos e crescemos juntos, no solar paterno. Mas crescemos 
diferentemente: eu, de má saúde e mergulhado na minha melancolia; ela, ágil, graciosa e 
exuberante de energia. Para ela, os passeios pelas encostas da colina. Para mim, estudos 
do claustro. Eu, encerrado dentro do meu próprio coração e dedicado, de corpo e alma, à 
mais intensa e penosa meditação . Ela, divagando descuidosa pela vida, sem pensar em 
sombras no seu caminho, ou no vôo silente das horas de asas lutuosas. Berenice! 
Quando lhe invoco o nome... Berenice!, das ruínas sombrias da memória repontam 
milhares de tumultuosas recordações. Ah, bem viva tenho agora a sua imagem diante de 
mim, como nos dias de sua jovialidade e alegria! Oh, deslumbrante, porém fantástica 
beleza! Oh, sílfide entre os arbustos de Arnheim! Oh, náiade à beira de suas fontes! E 
depois... depois tudo é mistério e uma estória que não deveria ser contada. 
Uma doença...uma doença - uma fatal doença - soprou como um símum sobre seu corpo. 
Eprecisamente quando a contemplava, o espírito da metamorfose arrojou-se sobre ela, 
invadindo-lhe a mente, os hábitos e o caráter e, da maneira mais sutil e terrível, 
perturbando-lhe a própria personalidade. Ai! O destruidor veio e se foi, e a vítima…onde 
está ela? Não a conhecia... ou não mais a conhecia como Berenice! 
Entre a numerosa série de males acarretados por aquela fatal e primeira doença, que 
realizou tão horrível revolução no ser moral e físico de minha prima, pode-se mencionar, 
como o mais aflitivo e o mais obstinado, uma espécie de epilepsia, que não poucas vezes, 
terminava em catalepsia, muito semelhante à morte efetiva e da qual despertava ela, 
quase sempre, duma maneira assustadoramente subitânea. 
Entrementes, minha própria doença aumentava, pois fora dito que para ela não havia 
remédio, e assumiu afinal um caráter de monomania, de forma nova e extraordinária, 
que, hora em hora, de minuto em minuto, crescia em vigor e por fim veio a adquirir sobre 
mim a mais incompreensível ascendência. Esta monomania, se assim posso chamá-la, 
consistia numa irritabilidade mórbida daquelas faculdades do espírito que a ciência 
metafísica denomina “faculdades da atenção". 
Émais que provável não me entenderem. Mas temo, deveras, que me seja totalmente 
impossível transmitir à mente do comum dos leitores uma ideia adequada daquela 
nervosa intensidade da atenção com que, no meu caso, as faculdades meditativas (para 
evitar a linguagem técnica) se aplicava e absorvia na contemplação dos mais vulgares 
objetos do mundo. 
Meditar infatigavelmente longas horas, com a atenção cravada em alguma frase frívola, à 
margem de um livro ou no seu aspecto tipográfico, ficar absorto, durante a melhor parte 
dum dia de verão em contemplação duma sombra extravagante, projetada obliquamente 
sobre a tapeçaria, ou sobre o soalho; perder uma noite observar a chama inquieta duma 
lâmpada, ou as brasas de um fogão; sonhar dias inteiros com o perfume duma flor; 
repetir monotonamente, alguma palavra comum, até que o som, a repetição freqüente, 
cesse de representar ao espírito a menor idéia; perder toda a sensação de movimento ou 
de existência física, em virtude de uma absoluta quietação do corpo, prolongada e 
obstinadamente mantida, tais eram as mais comuns e menos perniciosas aberrações, 
provocadas pelo estado de minhas faculdades mentais não, de fato, absolutamente sem 
exemplo, mas certamente desafiando qualquer espécie de análise ou explicação. 
Sejamos, porém, mais explícitos. A excessiva, ávida e mórbida atenção assim excitada por 
objetos de seu natural triviais, não deve ser confundida, a propósito, com aquela 
propensão à meditação, comum a toda a humanidade e mais especialmente do agrado 
das pessoas de imaginação ardente. Nem era tampouco, como se poderia a princípio 
supor, um estado extremo, ou uma exageração de tal propensão, mas primária e 
essencialmente distinta e diferente dela . Naquele caso, o sonhador, ou entusiasta, 
estando interessado por um objeto, geralmente não trivial, perde, sem o perceber, de vista 
este objeto, através duma imensidade de deduções e sugestões deles provindas, até que, 
chegando ao fim daquele sonho acordado, muitas vezes repletos de voluptuosidade, 
descobre estar o incitamentum causa primária de suas meditações, inteiramente 
esvanecido e esquecido. No meu caso, o ponto de partida era invariavelmente frívolo, 
embora assumisse, por intermédio de minha visão doentia, uma importância irreal e 
refratária. Poucas ou nenhumas reflexões eram feitas e estas poucas voltavam, 
obstinadamente , ao objeto primitivo como a um centro. As meditações nunca eram 
agradáveis, e ao fim do devaneio, a causa primeira, longe de estar fora de vista atingira 
aquele interesse sobrenaturalmente exagerado que era a característica principal da 
doença. Em uma palavra: as faculdades da mente mais particularmente exercitadas em 
mim eram, como já disse antes, as da atenção, ao passo que no sonhador-acordado são 
as especulativas. 
Naquela época, os meus livros, se não contribuíam eficazmente para irritar a moléstia, 
participavam largamente, como é fácil perceber-se, pela sua natureza imaginativa e 
inconseqüente, das qualidades características da própria doença. Bem me lembro, entre 
outros, do tratado do nobre italiano, Coelius Secundus Curio de amplitudine beati regni 
dei; da grande obra de Santo Agostinho, A Cidade de Deus; do De Carne Christí, de 
Tertuliano, no qual a paradoxal sentença: Mortuus' est Dei filius; credible est quia 
ineptum est; et sepultus resurrexít; certum est quia impossibíle est, absorveu meu tempo 
todo, durante semanas de laboriosa e infrutífera investigação. 
Dessa forma, minha razão, perturbada, no seu equilíbrio por coisas simplesmente triviais, 
assemelhava-se àquele penhasco marítimo de que fala Ptolomeu Hefestião, o qual resistia 
inabalável a questão da violência humana e ao furioso ataque das águas e ventos, mas 
tremia ao simples toque da flor chamada asfódelo. E embora a um pensador desatento 
possa parecer fora de dúvida que a alteração produzida pela lastimável moléstia no estado 
mortal de Berenice fornecesse motivos vários para o exercício daquela intensa e anormal 
meditação, cuja natureza tive dificuldade em explicar, tal não se deu absolutamente. 
Nos intervalos lúcidos de minha enfermidade, a desgraça que a feria me dava realmente 
pena e me afetava fundamente o coração aquela ruína total de sua vida alegre e doce. Por 
isso não deixava de refletir muitas vezes, com amargura, nas causas prodigiosas que 
tinham tão subitamente produzido modificação tão estranha. Mas essas reflexões não 
participavam da idiossincrasia de minha doença, tais como teriam ocorrido em idênticas 
circunstâncias, à massa ordinária dos homens. Fiel a seu próprio caráter, meu 
desarranjo mental preocupava-se com as menos importantes porém mais chocantes 
mudanças operadas na constituição física de Berenice, na estranha e mais espantosa 
alteração de sua personalidade. 
Posso afirmar que nunca amara minha prima, durante os dias mais brilhantes de sua 
incomparável beleza. Na estranha anomalia de minha existência, os sentimentos nunca 
me provinham do coração, e minhas paixões eram sempre do espírito. Através do 
crepúsculo matutino, entre as sombras estriadas da floresta, ao meio-dia no silêncio de 
minha biblioteca, à noite, esvoaçara ela diante de meus olhos e eu a contemplara, não 
como a viva e respirante Berenice, mas como a Berenice de um sonho; não como um ser 
da terra, um ser carnal, mas como a abstração de tal ser; não como uma coisa para 
admirar, mas para ser analisada; não como objeto para amar, mas como o tema da mais 
absoluta, embora inconstante, especulação. E agora.. . agora eu estremecia na sua 
presença e empalidecia ao vê-la aproximar-se; contudo, lamentando amargamente sua 
deplorável decadência, lembrei-me de que ela me havia amado muito tempo, e, num 
momento fatal, falei-lhe em casamento. 
Aproximava-se, enfim, o período de nossas núpcias quando, numa tarde de inverno de 
um daqueles dias intempestivamente cálidos, sossegados e nevoentos, que são a alma do 
belo Alcíone, me sentei no mais recôndito gabinete da biblioteca. Julgava estar sozinho, 
mas erguendo a vista divisei Berenice, em pé, à minha frente.Foi a minha própria 
imaginação excitada, ou a nevoenta influência da atmosfera, ou o crepúsculo impreciso 
do aposento, ou as cinérias roupagens que lhe caíam em torno do corpo, que lhe deu 
aquele contorno indeciso e trêmulo? Não sei dizê-lo. Ela não disse uma palavra e eu por 
forma alguma podia emitir uma só sílaba. 
Um gélido calafrio correu-me pelo corpo, uma sensação de intolerável ansiedade me 
oprimia, uma curiosidade devoradora invadiu-me a alma , e recostando-me na cadeira, 
permaneci por algum tempo imóvel e sem respirar, com os olhos fixos no seu vulto. Ai! 
sua magreza era excessiva e nenhum vestígio da criatura de outrora se vislumbrava 
numa linha sequer de suas formas. O meu olhar ardente pousou-se afinal em seu rosto.A 
fronte era alta e muito pálida, e de uma placidez singular. O cabelo, outrora negro, de 
azeviche, caía-lhe parcialmente sobre a testa e sombreava as fontes encovadas com 
numerosos anéis, agora de um amarelo vivo, em chocante discordância, pelo seu caráter 
fantástico , com a melancolia que lhe dominava o rosto. Os olhos, sem vida e sem brilho, 
pareciam estar desprovidos de pupilas. 
Desviei involuntariamente a vista daquele olhar vítreo para olhar-lhe os lábios delgados e 
contraídos. Entreabriram-se e, num sorriso bem significativo, os dentes da Berenice 
transformada se foram lentamente mostrando. Prouvera a Deus que eu nunca os tivesse 
visto, tendo-os visto, tivesse morrido! 
Obatido duma porta me assustou e, erguendo a vista, vi que minha prima havia saído do 
aposento. Mas do aposento desordenado do meu cérebro não havia saído, ai de mim!, e 
não queria sair o espectro branco de seus dentes lívidos. Nem uma mancha se via em 
sua superfície, nem uma pinta no esmalte, nem uma falha nas suas pontas, que aquele 
breve tempo de seu sorriso não houvesse gravado na minha memória. Via-os agora, 
mesmo mais distintamente do que os vira antes. 
Os dentes!. . . Os dentes! Estavam aqui e ali e por toda parte, visíveis, palpáveis. diante 
de mim. Compridos, estreitos e excessivamente brancos, com os pálidos lábios contraídos 
sobre eles, como no instante mesmo do seu primeiro e terrível crescimento. Então 
desencadeou-se a plena fúria minha monomania e em vão lutei contra sua estranha e 
irresistível influência. Nos múltiplos objetos do mundo exterior, só pensava naqueles 
dentes. Queria-os com frenético desejo. Todos os assuntos e todos os interesses diversos 
foram absorvidos por aquela exclusiva contemplação. 
Eles, somente eles estavam presentes aos olhos de meu espírito, e eles, na sua única 
individualidade, se tornaram a essência de minha vida mental. Via-os sob todos os 
aspectos. Revolvi-os em todas as direções. Observava-lhes as características. Detinha-me 
em todas as suas peculiaridades. Meditava em sua conformação refletia na alteração de 
sua natureza. Estremecia ao atribuir-lhe em imaginação, faculdades de sentimento e de 
sensação, e, do mesmo quando desprovidos dos lábios, capacidade da expressão moral. 
Dizia-se com razão, de Mademoisselle Sallé que: tous ses pas étaient de sentiments, e de 
Berenice que: tous ser dentr étaien des idées! (todos os seus passos eram 
sentimentos...todos o seus dentes idéias N.T.) 
Ah, esse foi o pensamento absurdo que me destruiu , des idées! Ah, essa era a razão pela 
qual eu os cobiçava tão loucamente . Sentia que somente a posse deles me poderia 
restituir a paz para sempre, fazendo-me voltar a razão.E assim cerrou-se a noite em torno 
de mim. Vieram as trevas demoraram-se, foram embora. E o dia raiou mais uma vez e os 
nevoeiros de uma segunda noite de novo se adensaram em torno de mim. E ainda 
sentado estava, imóvel, naquele quarto solitário ainda mergulhado em minha meditação, 
ainda com o dentes mantendo sua terrível ascendência sobre mim, a flutuar com a mais 
viva e hedionda nitidez, entre as luzes mutáveis e as sombras do aposento. Afinal, 
explodiu em meio de meus sonhos um grito de horror e de consternação, ao qual se 
seguiu, depois de uma pausa, o som de vozes aflitas, entremeadas de surdos lamentos de 
tristeza e pesar. 
Levantei-me e, escancarando uma das portas da biblioteca, vi, de pé, na antecâmara, 
uma criada, toda em lágrimas que me disse que Berenice havia. . . morrido! Sofrera um 
ataque epiléptico pela manhã e agora, ao cair da noite, a cova estava pronta para 
receber seu morador e todos os preparativos do enterro terminados. 
Com o coração cheio de angústia, oprimido pelo temor, dirigi com repugnância, para o 
quarto de dormir da defunta. Era quarto vasto, muito escuro, e eu me chocava, a cada 
passo, com os preparativos do sepultamento. Os cortinados do leito, disse-me um criado, 
estavam fechados sobre o ataúde e naquele ataúde, acrescentou ele, em voz baixa, jazia 
tudo quanto restava de Berenice. 
Quem, pois, me perguntou se eu não queria ver o corpo? Não vi moverem-se os lábios de 
ninguém; entretanto, a pergunta realmente feita e o eco das últimas sílabas ainda se 
arrastava pelo quarto. Era impossível resistir e, com uma sensação opressiva, dirigi-me a 
passos tardos para o leito. Ergui de manso as sombrias dobras das cortinas; mas, 
deixando-as cair de novo, desceram sobre meus ombros e, separando-me do mundo dos 
vivos, me encerraram na mais estreita comunhão com a defunta. 
Todo o ar do quarto respirava morte; mas o cheiro característico do ataúde me fazia mal 
e imaginava que um odor deletério exalava já do cadáver. Teria dado mundos para 
escapar, para livrar-me da perniciosa influência mortuária, para respirar, uma vez ainda, 
oar puro dos céus eternos. Mas, faleciam-me as forças para mover-me os joelhos tremiam 
e me sentia como que enraizado no solo contemplando fixamente o rígido cadáver, 
estendido ao comprido no caixão aberto. 
Deus do céu! Seria possível? Ter-se-ia meu cérebro transviado? Ou o dedo da defunta se 
mexera no sudário que a envolvia? Tremendo de inexprimível terror, ergui lentamente os 
olhos para ver o cadáver. Haviam-lhe amarrado o queixo com um lenço, o qual não sei 
como, se desatara. Os lábios lívidos se torciam numa espécie de sorriso, e por entre sua 
moldura melancólica os dentes de Berenice, brancos, luzentes, terríveis me fixavam 
ainda, com uma realidade demasiado vivida. Afastei-me convulsivamente, do leito, sem 
pronunciar uma palavra, como um louco, corri para fora daquele quarto de mistério, de 
horror e de morte. 
Achei-me de novo sentado na biblioteca, e de novo ali estava só.Parecia que havia pouco 
despertara de um sonho confuso e agitado que era então meia-noite e bem ciente estava 
de que, desde o pôr do sol, Berenice tinha sido enterrada. Mas, durante esse tétrico 
intervalo, eu não tinha qualquer percepção positiva, ou definida. Sua recordação, porém, 
estava repleta de horror, horror mais horrível porque vindo do impreciso, terror mais 
terrível porque saído da ambigüidade. Era uma página espantosa do registro de minha 
existência , toda escrita com sombra e com medonhas e ininteligíveis recordações. 
Tentava decifrá-la, mas em vão; e de vez em quando, como o espírito de um som evadido, 
parecia-me retinir nos ouvidos o grito agudo e lancinante de uma voz de mulher. Eu fizera 
alguma coisa; que era, porém? Fazia a mim mesmo tal pergunta em voz alta, e os ecos do 
aposento me respondiam: Que era? a mesa, a meu lado, ardia uma lâmpada e perto dela 
estava uma caixinha. Não era de forma digna de nota e eu freqüentemente a vira antes, 
pois pertencia ao médico da família; mas, como viera ter ali, sobre minha mesa, e por que 
estremecia eu ao comtemplá-la? Não valia a pena importar-me com tais coisas e meus 
olhos por fim caíram sobre as páginas abertas de um livro, na sentença nelas sublinhada. 
Eram as palavras singulares, simples, do poeta Ebn Zaiat: "Dícebant míhi sodales, si 
sepulchrum amicae visitarem, curas meus aliquantulum fore levatas". Porque então, ao 
lê-las, os cabelos de minha cabeça se eriçaram até a ponta, e o sangue de meu corpo se 
congelou nas veias? 
Uma leve pancada soou na porta da biblioteca. E, pálido como o brilhante de um 
sepulcro, um criado entrou, na ponta dos pés. Sua fisionomia estava transtornada de 
pavor e ele me falou numa voz trêmula, rouca e muito baixa. Que disse? Ouvi frases 
truncadas. Falou-me de um grito selvagem que perturbara o silêncio da noite …todos em 
casa se reuniram. . . saíram procurando em direção ao som. E depois sua voz se tornou 
penetrantemente distinta, ao falar-me de um túmulo violado. . . de um corpo desfigurado, 
desamortalhado, mas que ainda respirava, ainda ainda vivia! 
Apontou para minhas roupas; estavam sujas de coágulos de sangue. Eu nada falava e ele 
pegou-me levemente na mão; gravavam-se nela os sinais de unhas humanas. Chamou-me 
aatenção para certo objeto encostado à parede: era uma pá. 
Com um grito, saltei para a mesa e agarrei a caixa que nela se achava. Mas não pude 
arrombá-la; e, no meu tremor, ela deslizou de minhas mãos e caiu com força, quebrandose em pedaços. E dela, com um som tintinante, rolaram vários instrumentos de cirurgia 
dentária, de mistura com trinta e duas coisas pequenas, como que de marfim, que se 
espalharam por todo o assoalho.




O Gato Preto - Edgar Allan Poe

Lembra que eu avia prometido postar algum conto do Edgar Allan Poe? Aqui está! Aliás, logo vou postar outro mais tarde...


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O Gato Preto




Para a muito estranha embora muito familiar narrativa que estou a escrever, não espero 
nem solicito crédito. Louco, em verdade, seria eu para esperá-lo, num caso em que meus 
próprios sentidos rejeitam seu próprio testemunho. Contudo, louco não sou e com toda a 
certeza não estou sonhando. Mas amanhã morrerei e hoje quero aliviar minha alma. 
Meu imediato propósito é apresentar ao mundo, plena, sucintamente e sem comentários, 
uma série de simples acontecimentos domésticos. Pelas suas conseqüências, estes 
acontecimentos, me aterrorizam, me torturaram e me aniquilaram. Entretanto, não 
tentarei explicá-los. Para mim, apenas se apresentam cheios de horror. Para muitos, 
parecerão menos terríveis do que grotescos. Mais tarde, talvez, alguma inteligência se 
encontre que reduza meu fantasma a um lugar comum, alguma inteligência mais calma, 
mais lógica, menos excitável do que a minha e que perceberá nas circunstâncias que 
pormenorizo com terror apenas a vulgar sucessão de causas e efeitos, bastante naturais. 
Salientei-me desde a infância, pela docilidade e humanidade de meu caráter. Minha 
ternura de coração era mesmo tão notável que fazia de mim motivo de troça de meus 
companheiros. Gostava de modo especial de animais e meus pais permitiam que eu 
possuísse grande variedade de bichos favoritos. Gastava com eles a maior parte do meu 
tempo e nunca me sentia tão feliz como quando lhes dava comida e os acariciava. Esta 
particularidade de caráter aumentou com o meu crescimento e, na idade adulta, dela 
extraia uma de minhas principais fontes de prazer. Àqueles que tem dedicado a afeição a 
um cão fiel e inteligente pouca dificuldade tenho em explicar a natureza ou a intensidade 
da recompensa que daí deriva. Há qualquer coisa no amor sem egoísmo e abnegado de 
um animal que atinge diretamente o coração de quem tem tido freqüentes ocasiões de 
experimentar a amizade mesquinha e a fidelidade frágil do simples Homem. 
Casei-me ainda moço e tive a felicidade de encontrar em minha mulher um caráter 
adequado ao meu. Observando minhas predileções pelos animais domésticos, não perdia 
ela a oportunidade de procurar os das espécies mais agradáveis. Tínhamos pássaros, 
peixes dourados, um lindo cão, coelhos, um macaquinho e um gato. Este último era um 
belo animal, notavelmente grande, todo preto e de uma sagacidade de espantar. Ao falar 
da inteligência dele, mulher que no íntimo não tinha nem um pouco de superstição, fazia 
freqüentes alusões à antiga crença popular que olhava todos os gatos pretos como 
feiticeiras disfarçadas. Não que ela se mostrasse jamais séria preocupação a respeito 
desse ponto, e eu só menciono isso final, pelo simples fato de, justamente agora, ter-me 
vindo à lembrança. 

Plutão - assim se chamava o gato - era o meu preferido e companheiro. Só eu lhe dava de 
comer e ele me acompanhava por toda a parte da casa, por onde eu andasse. Era mesmo 
com dificuldade que eu conseguia impedi-lo de acompanhar-me pelas ruas. Nossa 
amizade durou, desta maneira, muitos anos, nos quais , meu temperamento geral e meu 
caráter - graças à diabólica esperança - tinham sofrido (coro de confessá-lo) radical 
alteração para pior. Tornava-me dia a dia mais taciturno, mais irritável, mais descuidoso 
dos sentimentos alheios. Permiti me mesmo usar linguagem brutal para com minha 
mulher. Por fim, cheguei mesmo a usar de violência corporal. Meus bichos, sem dúvida, 
tiveram que sofrer essa mudança de meu caráter. Não somente descuidei-me deles, como 
os maltratava. 

Quanto a Plutão, porém, tinha para com ele, ainda, suficiente consideração que me 
impedia de maltratá-lo, ao passo que não tinha escrúpulos em maltratar os coelhos, o 
macaco ou mesmo o cachorro, quando, por acaso ou por afeto, se atravessavam em meu 
caminho. Meu mal, contudo, aumentava, pois que outro mal se pode comparar ao álcool? 
E, por fim, até mesmo Plutão, que estava agora ficando velho e, em conseqüência, um 
tanto impertinente, até mesmo Plutão começou a experimentar do meu mau 
temperamento. 

Certa noite, de volta a casa, bastante embriagado, de uma das tascas dos subúrbios, 
supus que o gato evitava minha presença. Agarrei-o, mas, nisto, amedrontado com a 
minha violência ele me deu uma leve dentada na mão. Uma fúria diabólica apossou-se 
instantaneamente de mim. Cheguei a desconhecer-me. Parecia que alma original me 
havia abandonado de repente o corpo e uma maldade mais do que satânica, saturada de 
álcool, fazia vibrar todas as fibras de meu corpo. Tirei do bolso do colete um canivete, 
abri, agarrei o pobre animal pela garganta e, deliberadamente, arranquei-lhe um dos 
olhos da órbita! Coro, abraso-me, estremeço ao narrar a condenável atrocidade. 
Quando, com a manhã, me voltou a razão, quando, com o sono desfiz os fumos da noite 
de orgia, experimentei uma sensação meio de horror, meio de remorso pelo crime de que 
me tornara culpado. Mas era, quando muito, uma sensação fraca e equívoca e a alma 
permanecia insensível. De novo mergulhei em excessos e logo afoguei no vinho toda a 
lembrança do meu ato. 

Enquanto isso o gato, pouco a pouco, foi sarando. A órbita do olho arrancado tinha, é 
verdade, uma horrível aparência, mas ele parecia não sofrer mais nenhuma dor. Andava 
pela casa como de costume, mas, como era de esperar, fugia com extremo terror a minha 
aproximação. Restava-me ainda bastante de meu antigo coração, para que me magoasse, 
aprincípio, aquela evidente aversão por parte de uma criatura que tinha sido outrora tão 
amada por mim. Mas esse sentimento em breve deu lugar à irritação. E então apareceu, 
como para minha queda final e irrevogável, o espírito de perversidade. Desse espírito não 
cuida a filosofia. Entretanto, tenho menos certeza da existência de minha alma do que de 
ser essa perversidade um dos impulsos primitivos do coração humano, uma das 
indivisíveis faculdades primárias, ou sentimentos, que dão direção ao caráter do homem. 
Quem não se achou centenas de vezes a cometer um ato vil ou estúpido, sem outra razão 
senão a de saber que não devia cometê-lo ? Não temos nós uma perpétua inclinação 
apesar de nosso melhor bom-senso, para violar o que é a lei, pelo simples fato de 
compreendermos que ela é a Lei? O espírito de perversidade, repito, veio a causar, minha 
derrocada final. Foi esse anelo insondável da alma, de torturar-se a si próprio, de 
violentar a sua própria natureza, de praticar o mal que pelo mal, que me levou a 
continuar e, por fim, a consumar a tortura que já havia infringido ao inofensivo animal. 
Certa manhã, a sangue-frio, enrolei em seu pescoço e enforquei-o no ramo de uma árvore, 
enforquei-o com as lágrimas jorrando-me dos olhos e com o mais amargo remorso no 
coração. Enforquei-o porque sabia que ele me tinha amado e porque sentia que ele não 
me tinha dado razão para ofendê-lo. Enforquei-o porque sabia que, assim fazendo, estava 
cometendo um pecado, um pecado mortal, que iria pôr em perigo a minha alma imortal, 
colocando-a - se tal coisa fosse possível - mesmo fora do alcance da infinita misericórdia 
domais misericordioso terrível Deus. 

Na noite do dia no qual pratiquei essa crudelíssima façanha fui despertado do sono pelos 
gritos de: "Fogo!" As cortinas de minha cama estavam em chamas. A casa inteira ardia. 
Foi com grande dificuldade que minha mulher, uma criada e eu mesmo conseguimos 
escapar ao incêndio. A destruição foi completa. Toda a minha fortuna foi tragada, e 
entreguei-me desde então ao desespero. 

Não tenho a fraqueza de buscar estabelecer uma relação de causa e efeito entre o 
desastre e a atrocidade, mas estou relatando um encadeamento de fatos e não desejo que 
nem mesmo um possível elo seja negligenciado. Visitei os escombros no dia seguinte ao 
incêndio. Todas as paredes tinham caído, exceto uma, e esta era de um aposento interno, 
não muito grossa, que se situava mais ou menos no meio da casa e contra a qual 
permanecera a cabeceira de minha cama. O estuque havia, em grande parte, resistido ali 
à ação do fogo, fato que atribui a ter sido ele recentemente colocado. Em torno dessa 
parede reuniu-se compacta multidão e muitas pessoas pareciam estar examinando certa 
parte especial dela, com uma atenção muito ávida e minuciosa. As palavras "estranho, 
singular!" e expressões semelhantes excitaram minha curiosidade. Aproximei-me e vi, 
como se gravada em baixo-relevo sobre a superfície branca, a figura de um gato 
gigantesco. A imagem fora reproduzida com uma nitidez verdadeiramente maravilhosa. 
Havia uma corda em redor do pescoço do animal. 

Ao dar, a princípio, com essa aparição, pois não podia deixar de considerá-la senão isso - 
meu espanto e meu terror foram extremos. Mas, afinal, a reflexão veio em meu auxilio. O 
gato, lembrava-me, tinha sido enforcado num jardim, junto da casa. Ao alarme de fogo, 
esse jardim se enchera imediatamente de povo e alguém deve ter cortado a corda que 
prendia o animal à árvore e o lançara por uma janela aberta dentro de meu quarto. Isto 
fora provavelmente feito com o propósito de despertar-me. A queda de outras paredes 
tinha comprimido a vítima de minha crueldade de encontro à massa do estuque, colocado 
de pouco, cuja cal, com as chamas e o amoníaco do cadáver, traçara então a imagem tal 
como a vimos.

Embora assim prontamente procurasse satisfazer a minha razão, senão de todo a minha 
consciência, a respeito do surpreendente fato que acabo de narrar, nem por isso deixou 
ele de causar profunda impressão na minha imaginação. Durante meses, eu não me pude 
libertar do fantasma do gato e, nesse período, voltava-me ao espírito um vago sentimento 
que parecia remorso, mas não era. Cheguei a ponto de lamentar a perda do animal e de 
procurar, entre as tascas ordinárias que eu agora habitualmente freqüentava, outro bicho 
da mesma espécie e de aparência um tanto semelhante com que substituí-lo. 
Certa noite, sentado, meio embrutecido, num antro mais que infame, minha atenção foi 
de súbito atraída para uma coisa preta que repousava em cima de um dos imensos barris 
de genebra ou de rum que constituíam a principal mobília da sala. Estivera a olhar 
fixamente para o alto daquele barril, durante alguns minutos, e o que agora me causava 
surpresa era o fato de que não houvesse percebido mais cedo a tal coisa ali situada. 
Aproximei-me e toquei-a com a mão um gato preto, um gato bem grande, tão grande 
como Plutão, e totalmente semelhante a ele, exceto em um ponto. Plutão não tinha pêlos 
brancos em parte alguma do corpo, mas este gato tinha uma grande, embora imprecisa, 
mancha branca cobrindo quase toda a região do peito. 

Logo que o toquei, ele imediatamente se levantou, ronronou alto, esfregou-se contra 
minha mão e pareceu satisfeito com o meu carinho. Era pois, aquela a criatura mesma 
que eu procurava. Imediatamente, tentei comprá-lo ao taverneiro, mas este disse que não 
lhe pertencia o animal, nada sabia a seu respeito e nunca o vira antes. 
Continuei minhas carícias, e, quando me preparei para voltar para casa, o animal deu 
mostras de querer acompanhar-me. Deixei que assim o fizesse, curvando-me, às vezes, e 
dando-lhe palmadinhas, enquanto seguia. Ao chegar à casa, ele imediatamente se 
familiarizou com ela e se tornou desde logo grande favorito de minha mulher. 
De minha parte, depressa comecei a sentir despertar-se em mim antipatia contra ele. Isto 
era, precisamente, o reverso do que eu tinha previsto, mas - não sei como ou por quê - 
sua evidente amizade por mim antes me desgostava e aborrecia. Lenta e gradativamente 
esses sentimentos de desgosto e aborrecimento se transformaram na amargura do ódio. 
Evitava o animal; certa sensação de vergonha e a lembrança de minha antiga crueldade 
impediam-me de maltratá-lo fisicamente. 

Durante algumas semanas abstive-me de bater-lhe ou de usar contra ele de qualquer 
outra violência; mas gradualmente, bem gradualmente, passei a encará-lo com indizível 
aversão e a esquivar-me, silenciosamente, à sua odiosa presença, como a um hálito 
pestilento.

Oque aumentou sem dúvida meu ódio pelo animal foi a descoberta, na manhã seguinte à 
em que o trouxera para casa, de que como Plutão, fora também privado de um de seus 
olhos. Essa circunstância, porém, só fez aumentar o carinho de minha mulher por ele; 
ela, como já disse, possuía, em alto grau, aquela humanidade de sentimento que fora 
outrora o traço distintivo e a fonte de muitos dos meus mais simples e mais puros 
prazeres.

Com a minha aversão àquele gato, porém, sua predileção por mim parecia aumentar. 
Acompanhava meus passos com uma pertinácia que o leitor dificilmente compreenderá. 
Em qualquer parte onde me sentasse, enroscava-se ele debaixo de minha cadeira ou 
pulava sobre meus joelhos, cobrindo-me com suas carícias repugnantes. Se me levantava 
para andar, metia-se entre meus pés, quase a derrubar-me, ou cravando suas longas e 
agudas garras em minha roupa, subia dessa maneira até o meu peito. Nessas ocasiões, 
embora tivesse o desejo ardente de matá-lo com uma pancada, era impedido de fazê-lo, 
em parte por me lembrar de meu crime anterior mas, principalmente - devo confessá-lo 
sem demora -, por absoluto pavor do animal. 

Esse pavor não era exatamente um pavor de mal físico e, contudo, não saberia como 
defini-lo de outra forma. Tenho quase vergonha de confessar - sim, mesmo nesta cela de 
criminoso, tenho quase vergonha de confessar que o terror e o horror que o animal me 
inspirava tinham sido aumentados por uma das mais simples quimeras que seria 
possível conceber. Minha mulher chamara mais de uma vez minha atenção para a 
natureza da marca de pêlo branco de que falei e que constituía a única diferença visível 
entre o animal estranho e o que eu havia matado. O leitor há de recordar-se que esta 
mancha, embora grande, fora a princípio de forma bem imprecisa. Mas por leves 
gradações, gradações quase imperceptíveis e que, durante muito tempo, a razão forcejou 
para rejeitar como imaginárias, tinha afinal assumido uma rigorosa precisão de contorno. 
Era agora a reprodução de um objeto que tremo em nomear e por isso, acima de tudo, eu 
detestava e temia o monstro e ter-me- ia livrado dele, se o ousasse. Era agora, digo, a 
imagem de uma coisa horrenda, de uma coisa apavorante. . . a imagem de uma forca! 
Oh, lúgubre e terrível máquina de horror e de crime, de agonia e de morte! 
Eentão eu era em verdade um desgraçado, mais desgraçado que a própria desgraça 
humana. E um bronco animal, cujo companheiro eu tinha com desprezo destruído, um 
bronco animal preparava para mim - para mim, homem formado à imagem do Deus 
Altíssimo - tanta angústia intolerável! Ai de mim! Nem de dia nem de noite era-me dado 
mais gozar a bênção do repouso! Durante o dia, o bicho não me deixava um só momento 
e, de noite, eu despertava, a cada instante, de sonhos de indizível pavor, para sentir o 
quente hálito daquela coisa no meu rosto e o seu enorme peso, encarnação de pesadelo, 
que eu não tinha forças para repelir, oprimindo eternamente o meu coração! 
Sob a pressão de tormentos tais como estes, os fracos restos de bondade que haviam em 
mim sucumbiram. Meus únicos companheiros eram os maus pensamentos, os mais 
negros e maléficos pensamentos.O mau-humor de meu temperamento habitual 
aumentou, levando-me a odiar todas as coisas e toda a humanidade. Minha resignada 
esposa, porém, era a mais constante e mais paciente vítima das súbitas, freqüentes e 
indomáveis explosões de uma fúria a que eu agora me abandonava cegamente. 
Certo dia ela me acompanhou, para alguma tarefa doméstica, até a adega do velho prédio 
que nossa pobreza nos compelira a ter de habitar. O gato desceu os degraus seguindo-me 
equase me lançou ao chão, exasperando-me até a loucura. Erguendo um machado e 
esquecendo na minha cólera o medo pueril que tinha até ali sustido minha mão, 
descarreguei um golpe no animal, que teria, sem dúvida, sido instantaneamente fatal se 
eu o houvesse assestado como desejava. 

Mas esse golpe foi detido pela mão de minha mulher. Espicaçado por esta essa 
intervenção, com uma raiva mais do que demoníaca, arranquei meu braço de sua mão e 
enterrei o machado no seu crânio. Ela caiu morta imediatamente, sem um gemido. 
Executado tão horrendo crime, logo e com inteira decisão entreguei-me à tarefa de ocultar 
ocorpo. Sabia que não podia removê-lo da casa nem de dia nem de noite, sem correr o 
risco de ser observado pelos vizinhos. Muitos projetos me atravessavam a mente. Em 
dado momento pensei em cortar o cadáver em pedaços miúdos e queimá-los. Em outro, 
resolvi cavar uma cova para ele no chão da adega. De novo, deliberei lançá-lo no poço do 
pátio, metê-lo num caixote, como uma mercadoria, com os cuidados usuais, e mandar 
um carregador retirá-lo da casa. Finalmente, detive-me no considerei um expediente bem 
melhor que qualquer um destes. Decidi emparedá-lo na adega, como se diz que os 
monges da Idade média emparedavam suas vítimas. 

Para um objetivo semelhante estava a adega bem adaptada. Suas paredes eram de 
construção descuidada e tinham sido ultimamente recobertas, por completo, de um 
reboco grosseiro, cujo endurecimento a umidade da atmosfera impedira. Além disso, em 
uma das paredes havia uma saliência causada por uma falsa chaminé ou lareira que fora 
tapada para não se diferençar do resto da adega. Não tive dúvidas de que poderia 
prontamente retirar os tijolos naquele ponto, introduzir o cadáver e emparedar tudo como 
antes, de modo que olhar algum pudesse descobrir qualquer coisa suspeita. E não me 
enganei nesse cálculo. Por meio do um gancho, desalojei facilmente os tijolos e, tendo 
cuidadosamente depositado o corpo contra a parede interna, sustentei-o nessa posição, 
enquanto, com pequeno trabalho, repus toda a parede no seu estado primitivo. Tendo 
procurado argamassa, areia e fibra, com todas as precauções possíveis, preparei um 
estuque que não podia ser distinguido do antigo e com ele, cuidadosamente, recobri o 
novo entijolamento. Quando terminei, senti-me satisfeito por ver que tudo estava direito. 
Aparede não apresentava a menor aparência de ter sido modificada. Fiz a limpeza do 
chão, com o mais minucioso cuidado. Olhei em torno com ar triunfal e disse a mim 
mesmo: "Aqui, pelo menos pois, meu trabalho não foi em vão!" 
Tratei, em seguida, de procurar o animal que fora causa de tamanha desgraça, pois 
resolvera afinal decididamente matá-lo. Se tivesse podido encontrá-lo naquele instante, 
não poderia haver dúvida a respeito de sua sorte. Mas parecia que o manhoso animal 
ficara alarmado com a violência de minha cólera anterior e evitava arrostar a minha raiva 
do momento. 

Éimpossível descrever ou imaginar a profunda e abençoada sensação de alívio que a 
ausência da detestada criatura causava no meu íntimo. Não me apareceu durante a noite. 
Eassim, por uma noite pelo menos, desde que ele havia entrado pela casa, dormi 
profunda e tranqüilamente. Sim, dormi, mesmo com o peso de uma morte na alma. 
Osegundo e o terceiro dia se passaram e, no entanto, o meu carrasco não apareceu. Mais 
uma vez respirei como um livre. Aterrorizado, o monstro abandonara a casa para sempre! 
Não mais o veria! Minha ventura era suprema! Muito pouco me perturbava a culpa de 
minha negra ação. Poucos interrogatórios foram feitos e tinham sido prontamente 
respondidos. Dera-se mesmo uma busca, mas, sem dúvida, nada foi encontrado. 
Considerava assegurada a minha futura felicidade. 

No quarto dia depois do crime, chegou, bastante inesperadamente à casa um grupo de 
policiais, que procedeu de novo a investigação dos lugares. Confiando, porém, na 
impenetrabilidade do meu esconderijo, não senti o menor incômodo. Os agentes 
ordenaram-me que os acompanhasse em sua busca. Nenhum escaninho ou recanto 
deixaram inexplorado. Por fim, pela terceira ou quarta vez, desceram à adega. Nenhum 
músculo meu estremeceu. Meu coração batia calmamente, como o de quem dorme o sono 
da inocência. Caminhava pela adega de ponta a ponta; cruzei os braços no peito e 
passeava tranqüilo para lá e para cá. Os policiais ficaram inteiramente satisfeitos e 
prepararam-se para partir. O júbilo de coração era demasiado forte para ser contido. 
Ardia por dizer ao menos uma palavra, a modo de triunfo, e para tornar indubitavelmente 
segura a certeza neles de minha inculpabilidade. 

-Senhores - disse, por fim, quando o grupo subia a escada - sinto-me encantado por ter 
desfeito suas suspeitas. Desejo a todos saúde e um pouco mais de cortesia. A propósito, 
cavalheiros, esta é uma casa muito bem construída. . . (no meu violento desejo de dizer 
alguma coisa com desembaraço, eu mal sabia o que ia falando). Posso afirmar que é uma 
casa excelentemente bem construída. Estas paredes.. . já vão indo, senhores?. . . estas 
paredes estão solidamente edificadas.Por simples frenesi de bravata, bati pesadamente 
com uma bengala que tinha na mão justamente naquela parte do entijolamento, por trás 
do qual estava o cadáver da mulher de meu coração. 

Mas praza a Deus proteger-me e livrar-me das garras do demônio! Apenas mergulhou no 
silêncio a repercussão de minhas pancadas e logo respondeu-me uma voz do túmulo. Um 
gemido, a princípio velado e entrecortado como o soluçar de uma criança, que depois, 
rapidamente se avolumou, num grito prolongado, alto e contínuo, extremamente anormal 
einumano, um urro, um guincho lamentoso, meio de horror e meio de triunfo, como só 
do Inferno se pode erguer a um tempo, das gargantas dos danados na sua agonia, e dos 
demônios que exultam na danação. 

Loucura seria falar de meus próprios pensamentos. Desfalecendo, recuei até a parede 
oposta. Durante um minuto, o grupo que se achava na escada ficou imóvel, no paroxismo 
do medo e do pavor. Logo depois, uma dúzia de braços robustos se atarefava em 
desmantelar a parede. Ela caiu inteiriça. O cadáver, já grandemente decomposto, e 
manchado de coágulos de sangue, erguia-se, ereto, aos olhos dos espectadores. Sobre 
sua cabeça, com a boca vermelha escancarada, o olho solitário chispante, estava 
assentado o horrendo animal cuja astúcia me induzira ao crime e cuja voz delatora me 
havia apontado ao carrasco. 

Eu havia emparedado o monstro no túmulo! 



Fotos Antigas

Você já imaginou como as pessoas se fantasiavam para o Halloween antigamente? Será que elas eram mais criativas que  nós? Ou até mesmo, mais aterrorizantes?

 Confira algumas fotos antigas que são de dar medo, e quem sabe, se inspire para o Halloween desse ano!



















Sessão "  Baphomet "









Eai, qual vai ser sua fantasia? 





Missa das Sombras - Anatole France




Eis o que o sacristão da igreja de Santa Eulália, em Neuville-d'Aumont, me contou debaixo da latada do Cavalo-Branco, numa bela noite de verão, bebendo uma garrafa de velho vinho, à saúde de um morto muito abastado, que ele havia enterrado honrosamente naquela manhã mesma, sob um tecido cheio de belas lágrimas de prata.

"Meu finado e pobre pai (quem fala é o sacristão) foi, em vida, coveiro. Era de humor agradável, e isso sem dúvida decorria de sua profissão, porque se tem reparado que as pessoas que trabalham nos cemitérios possuem espírito jovial. A morte não os atemoriza absolutamente; jamais se preocupam com ela. Eu, que lhe estou falando, senhor, penetro num cemitério, à noite, tão serenamente quanto no caramanchão do Cavalo-Branco. E se, por acaso, encontro um espectro, não me inquieto absolutamente com isso, porque reflito que ele pode perfeitamente ir cuidar de seus negócios, da mesma forma que eu dos meus. Conheço os hábitos dos mortos e seu caráter. Sei a tal respeito coisas que os próprios sacerdotes ignoram. E o senhor ficaria surpreso se lhe contasse tudo que tenho visto. Mas, nem todas as verdades são próprias para serem contadas, e meu pai, que, todavia, gostava de narrar histórias, não revelou a vigésima parte do que sabia. Em compensação, repetia muitas vezes as mesmas narrativas e. ao que eu saiba, relatou bem umas cem vezes a aventura de Catarina Fontaine.. Catarina Fontaine era uma velha solteirona, que ele se lembrava de ter visto em criança. Não me surpreenderia se ainda houvesse na região, até, uns três velhos que ainda se recordem de ter ouvido falar a seu respeito, porque ela era muito conhecida e considerada, embora pobre. Morava numa esquina da Rua das Freiras, na torrezinha que o senhor ainda pode ver e que depende de um velho palacete arruinado, que dá para o jardim das Ursulinas. Há. nessa torrezinha, figuras e inscrições meio apagadas. 0 falecido pároco de Santa Eulália, Levasseur, dizia aí estar escrito, em latim, que "o amor é mais forte que a morte". 0 que se refere, acrescentava, ao amor divino.Catarina Fontaine vivia sozinha nessa pequena habitação. Fazia rendas. 0 senhor sabe que as rendas de nossa região eram, antigamente, muito afamadas. Não se conheciam parentes ou amigos seus. Dizia-se que amara, aos dezoito. anos, o jovem cavaleiro d'Aumont", com quem noivara secretamente. Mas as pessoas de bem não queriam acreditar absolutamente nisso e diziam tratar-se de uma história que fora imaginada, porque Catarina Fontaine lembrava mais - uma dama, que uma operária, conservava 'sob seus cabelos brancos os vestígios de uma grande beleza, possuía um ar triste e se lhe podia ver, na mão, um desses anéis em que o ourives colocara duas mãozinhas unidas e que era costume outrora os noivos trocarem. 0 senhor saberá, daqui a pouco, o que isso significa.Catarina Fontaine vivia santamente. Freqüentava as igrejas e, todas as manhãs, qualquer que fosse o tempo,ia ouvir a missa de seis horas, em Santa Eulália.Ora, uma noite de dezembro, quando ela estava deitada em seu pequeno quarto, foi despertada pelo toque dos sinos; certa de estarem eles anunciando a primeira missa, a piedosa senhora vestiu-se e desceu à rua, onde a noite era tão fechada que se não viam absolutamente as casas; claridade alguma era perceptível, no céu negro. E reinava tamanho silêncio nessas trevas - que nem penso um cão ladrava ao longe - que a pessoa se sentia completamente separada do mundo dos vivos. Mas Catarina Fontaine, que conhecia cada uma das pedras onde pisava e que podia ir à igreja de olhos fechados, alcançou, sem dificuldade, a esquina da Rua das Freiras com a Rua da Paróquia, no ponto onde se ergue a casa de madeira que exibe uma árvore de Jessé, esculpida numa volumosa trave. Tendo alcançado esse local, ela viu que as portas da igreja estavam abertas e que deixavam sair uma grande claridade de círios. Continuou a caminhar e, tendo entrado, encontrou-se numa reunião, que enchia a igreja. Ela, porém, não reconhecia nenhum dos presentes, e estava surpresa ao ver - aquelas pessoas trajadas de veludo e de- brocado, - plumas no chapéu e trazendo espada, à maneira dos tempos de antanho. Havia senhoras que seguravam longas bolsas de castão de ouro e damas com toucados de nadas, presos com um pente em diadema. Cavaleiros de e Luís davam a mão a essas senhoras, que escondiam atrás do leque um rosto pintado, do qual só era visível um sinal no canto dos olhos! E todos iam colocar-se em seu lugar, sem o menor ruído, e não se ouvia,, enquanto andavam, nem o som dos passos no lajedo, nem o roçagar dos tecidos... As naves laterais enchiam-se de multidão de jovens artesãos, de casaco pardo. calções de fustão e meias azuis, que seguravam pela cintura raparigas lindíssimas, rosadas, que conservavam os olhos baixos. E, junto ás pias de água benta, camponesas de saia vermelha e corpinho de atar, sentavam-se no chão com a tranqüilidade dos animais domésticos . enquanto uns mocetões, de pé atrás delas, - alavam os olhos, rodando o chapéu nos dedos. E todas aquelas fisionomias silenciosas pareciam imobilizadas para sempre, no mesmo pensamento, suave e triste. Ajoelhada em seu lugar costumeiro, Catarina Fontaine viu o sacerdote caminhar para o altar, precedido por dois acólitos. Não reconheceu nem o sacerdote, nem os ajudantes. Começou a missa. Era uma silenciosa missa, na qual não se ouvia absolutamente o som dos lábios que se agitavam, nem o rumor da sinéta agitada inutilmente. Catarina Fontaine sentia-se sob o olhar e sob a influência de seu misterioso vizinho e, tendo olhado, sem quase volver a c- reconheceu o jovem cavaleiro d'Aumont-Cléry, que a havia amado e que morrera fazia quarenta e cinco anos. Reconheceu-o por um sinalzinho que ele possuía sob a Orelha esquerda e, principalmente, pelo sombreado dos longos cílios negros em seu 'rosto. Vestia o traje de caça, com botões dourados, que ele usara no dia em que tendo-a encontrado no bosque de São Bernardo, roubara-lhe um beijo. Conservava a Sua Mocidade e seu bom aspecto. Seu sorriso ainda mostrava uma dentadura de jovem lobo. Catarina disse-lhe, baixinho:Senhor, vós que fostes meu amigo e a quem dei outrora o que uma jovem possui de mais precioso, Deus vos tenha em sua graça! Possa ele me inspirar, finalmente, o pesar pelo pecado que cometi convosco: porque é verdade que, de cabelos brancos e próxima da morte, ainda não me arrependo de vos ter amado. Mas, finado amigo, meu belo senhor, dizei-me, quem são essas pessoas trajadas à maneira antiga, que estão assistindo aqui a esta silenciosa missa.0 cavaleiro d'Aumont-Cléry respondeu com uma voz mais débil que um sopro e, não obstante, mais clara que o cristal:
- Catarina, esses homens e essas mulheres são almas do purgatório, que ofenderam a Deus, pecando, a nosso exemplo, pelo amor das criaturas, mas que nem por isso estão desligadas de Deus, porque seu pecado foi, a exemplo do nosso, sem maldade. Enquanto separadas daqueles que amavam sobre a terra, elas se purificam no fogo do purgatório, padecem as dores da ausência, e para elas esse sofrimento é o mais cruel. São tão infelizes que um anjo do céu se apiedou de seu martírio de amor. Com o consentimento de Deus, reúne, todos os anos, durante uma hora da noite, o amigo à amiga em sua igreja paroquial, onde lhes é permitido assistir à missa das sombras, segurando-se pela mão. Esta é a verdade. Se me foi permitido ver-te aqui antes de tua morte, Catarina, tal coisa não se realizou sem a permissão de Deus.
E Catarina Fontaine lhe respondeu:
- Bem desejaria morrer para voltar a ser formosa como nos dias, meu finado senhor, em que te dava de beber na floresta.
Enquanto falavam assim, baixinho, um cônego muito idoso recolhia as esmolas e apresentava uma grande salva de cobre aos presentes, que ali deixavam cair sucessivamente moedas antigas, desde muito tempo fora de circulação: escudos de seis libras, florins, ducados, nobres com a rosa, e as moedas caíam em silêncio.Quando a salva de cobre lhe foi apresentada, o cavaleiro depositou um luís, que não fez mais ruído que as outras moedas de ouro ou de prata.Depois, o velho cônego parou em frente de Catarina Fontaine, que procurou em seu bolso, sem nele encontrar, um real. Então, não desejando recusar sua dádiva, tirou do dedo o anel que o cavaleiro lhe dera na véspera de sua morte, e atirou-o na concha de cobre. 0 anel de ouro, ao cair. ressoou como um pesado badalo de sino e, ao ruído atroador que ele fez, o cavaleiro, o cônego, o oficiante, os agitaram, as damas, os cavaleiros, toda a assistência desapareceu; os círios se apagaram e Catarina Fontaine ficou sozinha nas Trevas".Tendo concluído assim sua narrativa, o sacristão bebeu um grande copo de vinho, ficou um instante a meditar e depois prosseguiu, nestes termos:"Contei-lhe esta história exatamente como a ouvi muitas vezes de meu pai e creio que é verdadeira, porque corresponde a tudo o que tenho observado das maneiras e dos costumes peculiares dos defuntos.
"Convivi com os mortos, desde minha infância, e sei que eles costumam voltar a seus amores."
- É por isso que os mortos avarentos vagam, à noite, nas proximidades dos tesouros que eles esconderam durante a vida. Montam boa guarda à volta de seu ouro; mas os cuidados que eles tomam, longe de lhes servirem, prejudicam-nos, e não é raro descobrir-se dinheiro enterrado na terra, pesquisando-se o sítio freqüentado por um fantasma. Da mesma forma, os finados maridos vêm atormentar, à noite, suas mulheres, casadas em segundas núpcias, e eu poderia indicar muitos que vigiaram melhor suas esposas depois de mortos do que o haviam feito em vida... Esses são dignos de censura, porque, em boa justiça, os defuntos não deveriam ser ciumentos. Mas lhe estou Contando o que tenho observado. Por isso é que se deve ter cuidado quando se desposa uma viuva. Aliás, a história que lhe relatei tem sua comprovação no seguinte fato:"Na manhã seguinte a essa noite extraordinária, Catarina Fontaine foi encontrada morta em seu quarto. E o padre de Santa Eulália encontrou, na salva de cobre que servia para o peditório, um anel de ouro, com duas mãos entrelaçadas. Aliás, não sou homem que conte histórias para fazer rir. E se pedíssemos outra garrafa de vinho?. . .

Wendigo

Wendigo



1. O que é


Wendigo é uma criatura mitológica, nativa das lendas Algonquian (Tribos indígenas norte-americanas), trata-se de um espírito canibal, que pode se transformar em humano ou possuir um. A lenda também se aplica à pessoas praticantes do canibalismo: Uma pessoa canibal pode, eventualmente, se transformar em um Wendigo também.
Nas lendas tribais, a descrição da criatura varia demais, já que, segundo os indígenas, ele é muito rápido e é difícil descrevê-lo com detalhes. Mas o mais certo é que ele seja muito alto, muito, muito magro, por estar sempre com fome, com braços e pernas longos, e, em alguns casos, com um cabelo branco, ralo e sangrento. Possui garras afiadas nas mãos e nos pés, e possui dentes pontudos e amarelos. Muitas vezes possui sangue na boca, e sua língua é azulada. Os olhos variam do vermelho ao amarelo. Se trata de um espírito cruel e canibal, que possui grande poder espiritual, e que a presença dele é relacionada com o frio, que traz fome e desespero.
Eis uma rápida descrição de um Wendigo retirada de um professor da tribo Ojibwa:
O Wendigo era magro ao ponto de parecer doente, sua pele seca esticava-se sobre seus ossos. Com seus ossos sendo empurrados para fora da pele, sua tez cinza como a morte, e seus olhos afundados nas órbitas, o Wendigo parecia um esqueleto muito magro, recentemente desenterrado da cova. O que pareciam ser seus lábios estavam rachados e sangrentos [...] Impuro e sofrendo das feridas de sua carne, o Wendigo exalava um cheiro estranho de deterioração e decomposição, de morte e corrupção.


2. A caça


Como o Wendigo está sempre com fome, constantemente ele persegue humanos para alimentar-se da carne deles. Ele caça qualquer tipo de pessoa, embora tenha preferências em cada uma delas: Das crianças, ele prefere a gordura, das mulheres, a pele, dos homens, os músculos, e dos velhos, os ossos.
Ele também tem o costume de "armazenar" vítimas vivas, por causa dos lugares onde ele vive, com invernos longos e rigorosos, o Wendigo também guarda restos das pessoas que já comeu.
Ele é muito rápido, possui sentidos e força muito apurados, e é difícil de ser derrotado. Ele pode enxergar no escuro, e tem um olfato poderosíssimo, que localiza a vítima em distâncias longas, podendo seguí-la durante um bom tempo. É praticamente impossível conseguir fugir dele com êxito, uma vez que você se tornar a presa.
Suas garras são tão afiadas que conseguem decapitar um homem, e cortam a carne humana com grande facilidade. O mesmo para os seus dentes, com uma mordida tão forte capaz de quebrar ossos.
O Wendigo ainda é capaz de se mover com uma leveza impressionante, não deixando um som sequer denunciar sua presença. Se ele quiser que a vítima venha diretamente para ele, o Wendigo é capaz de imitar a voz humana, reproduzindo choros e pedidos de ajuda com perfeição.
Como se não bastasse, o Wendigo ainda é capaz de espalhar uma espécie de doença conhecida como Febre Wendigo (Wendigo Fever). Ele libera um odor para a vítma, que só ela pode sentir, depois, a pessoa que inalou aquele cheiro, a pessoa começa a ter terríveis pesadelos à noite e, ao acordar, começa a sentir uma dor lancinante nas pernas e nos braços, que se torna tão intensa que a pessoa se vê forçada a correr para a floresta (???) gritando de modo alucinado, e retirando suas roupas ao longo do caminho. As pessoas infectadas com a febre jamais voltam (As raras exceções revelaram pessoas que acabaram loucas por causa do acontecimento, e de um provável encontro com um Wendigo), e muitos acreditam que elas acabem sendo devoradas por um Wendigo.
O Wendigo enfrenta qualquer coisa quando ele está faminto, ele quebra árvores e mata animais enquanto caça. Algumas lendas sugerem que tempestades de neve e tornados são sinais de um Wendigo caçando.
Ele vive em florestas, mais especificamente em cavernas e cabines (aquelas onde vivem os guardas florestais).


3. O Wendigo na Criptozoologia


Embora poucos, já ocorreram avistamentos de Wendigos em alguns lugares. Alguns mais "céticos" com relação à existência do ser, acreditam que ele é confundido com o Pé-Grande ou como Yéti (Abominável Homem das Neves), e que não seria uma criatura nova.
O local mais frequente para esses encontros seria Ontário, no Canadá, também conhecida como "A Capital do Wendigo", sendo visitada anualmente por entusiastas e pesquisadores.
Lá existem áreas que serviram de palco para avistamentos e alguns incidentes, tanto que há três lugares que ganharam o nome da criatura! São eles a Caverna do Wendigo, o Rio Wendigo e o Lago Wendigo, três pontos mais famosos por serem considerados a casa dele. Alguns dizem que ele consegue viver em praticamente todo o território do Canadá (Lembrando que é o segundo maior país do mundo!)


4. Proteção


Para se proteger de um Wendigo (Oras, nunca se sabe se você vai acampar lá pro Canadá e dar de cara com um!!), existem amuletos que dizem afastar a criatura de quem os usar. Tampões ou fones de ouvido ajudam a proteger a vítima dos sons que ele produz para atraí-la.
Mas o que realmente mataria um Wendigo - segundo as lendas - seriam balas ou armas feitas de prata, como facas. Elas causam uma dor tremenda no bicho, podendo levá-lo à morte. Uma faca direta no coração congelado da criatura a mataria instantâneamente. Os pedaços do coração dele devem ser colocados em uma caixa de prata e enterrados em um solo sagrado (De cemitério ou igreja).
O corpo do Wendigo deve ser desmembrado com um machado de prata e descartado em áreas remotas (No fundo do mar ou em falhas geológicas, por exemplo) e separadamente. Se nada disso for feito, o Wendigo ressucitará, e obviamente caçará aquele que o matou. (...Prefiro não ir à floresta!)